Dia 8 de abril é celebrado o Dia Mundial do Combate ao Câncer e, de acordo com uma estimativa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), até 2025 são esperados cerca de 704 mil casos novos da doença no Brasil. Mais de 30 mil dessas ocorrência acometem pacientes na região da boca e face. Alguns casos têm cura, outros podem evoluir para mutilações graves que comprometem a fala, alimentação e abalam profundamente e autoestima de quem sobrevive à doença. A desfiguração facial é sempre devastadora. “O Instituto acolhe pacientes que venceram o câncer, mas não conseguiam sequer se olhar no espelho. Estavam com a vida pausada, vivem excluídos, à margem da sociedade. Quando recebem a prótese, voltam a viver com plenitude”, destaca o cirurgião-dentista Luciano Dib, um dos fundadores e presidente voluntário do Instituto Mais Identidade.
A baiana Marlene Farias de Menezes, 67 anos, enfrenta uma longa batalha contra o câncer desde 1999, quando teve a primeira retirada do tumor e um enxerto. Tempos depois, o tumor voltou, e ela foi submetida a uma nova retirada e novo enxerto. Em 2008, o câncer retornou, e ela acabou perdendo o globo ocular, além da pálpebra superior e inferior, o que afetou sua funcionalidade para a vida, além de abalar fortemente sua autoestima. Foi sua filha que lutou para resgatar sua identidade. “Eu vi uma reportagem na Record TV no ano de 2018, comecei a pesquisar na internet e descobri o site do Instituto, contei toda a história da minha mãe, falei que ela precisava muito se reabilitar, mas nossa família não tinha condições de arcar com a despesa”, contou Thalita Menezes, enquanto acompanhava a mãe em São Paulo para instalação cirurgia de colocação dos pino, etapa inicial do tratamento de implante. Mãe e filha estão hospedadas na Casa Safira, uma instituição de apoio parceira do Instituto Mais Identidade.
Marlene não é a primeira baiana a ser atendida pelo Instituto Mais Identidade. O assistente social Fábio Eça de Oliveira, 46 anos, também conseguiu reconstruir o rosto com ajuda da ONG. Fábio teve o primeiro diagnóstico de câncer aos 20 anos, enfrentou quatro recidivas. Na última, a doença voltou em forma de um tumor no maxilar esquerdo. Saiu vivo da mesa de cirurgia, mas com a visão monocular. “Pior que as limitações de viver com um olho só, é encarar a sociedade. As pessoas te encaram com expressão de estranhamento, olhar de preconceito”, resume o assistente social que só conseguiu retomar o trabalho após o implante.
Com tantos avanços nos procedimentos estéticos — alguns custando bem caro — já imaginou o valor de ter um olho de volta? O especialista Luciano Dib lista cinco pontos cruciais para a reabilitação de pacientes com face desfigurada, seja em decorrência de um câncer, doença neurológica ou acidente grave:
- O trabalho do Instituto Mais Identidade vai além da estética, devolvendo não só olho, nariz, orelha e parte da boca, como principalmente a funcionalidade e identidade dos pacientes;
- A cirurgia para o implante e a prótese não são o fim do tratamento. Os pacientes são acompanhados em longo prazo para garantir a adaptação à prótese e suporte para reinserção social;
- A reabilitação envolve uma equipe com mais de 12 profissionais, entre cirurgiões-dentistas, médicos, designers, especialistas em tecnologia, assistente social e psicólogos;
- Na rede particular uma única prótese pode custar até R$ 100 mil reais;
- No instituto Mais Identidade, próteses altamente eficientes e tecnológicas são ofertadas gratuitamente graças a empresas e pessoas físicas que apoiam com doações.
Mais de 30 anos ajudando as pessoas
Resultado de mais de 30 anos de pesquisas, o Instituto Mais Identidade foi fundado no ano de 2015 e reconhecido como OSCIP em 2019. A organização sem fins lucrativos vai além da prestação de um serviço gratuito de reabilitação. A busca de toda equipe é pela excelência. Centenas de pacientes já tiveram a imagem e a autoestima restauradas ao receber próteses maxilares e faciais produzidas com tecnologia digital e impressão 3D. O antes e depois impressiona. As próteses são feitas com usando a tecnologia para buscar a perfeição, espelhando a parte saudável do rosto, para que o resultado final seja o mais natural possível.
Desde que foi criado, o Instituto Mais Identidade já ofertou mais 200 próteses, não só oculopalpebrais, mas reabilitando a região do nariz, orelha e maxilares. Atualmente, 40 pacientes somente no estado de São Paulo aguardam por uma prótese, além de 18 pessoas de outros estados. “Mas a gente sabe que a demanda é muito maior. Muitas pessoas estão à margem, excluídas da sociedade, com vergonha de mostrar o rosto até para a família e precisam ter a identidade e a vida de volta”, conclui Dib.