Nas redes sociais é cada vez mais comum assistirmos vídeos emocionantes de pessoas que escutam pela primeira vez, ou que recuperam a audição após anos de surdez; a razão, na maioria das vezes, está justamente nessa cirurgia
Nas redes sociais, as imagens sempre ‘viralizam’, tamanha a emoção por parte dos pacientes. Geralmente vem um susto, seguido de muitas risadas, choros incontidos de alegria e, claro, muitos abraços, beijos e infinitas comemorações por parte dos familiares e da equipe médica.
Assim costuma ser o ‘final feliz’ de quem faz o chamado implante coclear — procedimento que consiste na implantação de um dispositivo, por baixo da pele da cabeça, na região atrás da orelha, que funciona como um “ouvido biônico”.
A transmissão dos sons se dá por meio de um fio com eletrodos, que passa pela chamada janela redonda (membrana que cobre a entrada da cóclea no ouvido interno) e dá a volta na cóclea (estrutura responsável pela nossa audição), atuando semelhante a um ouvido normal. “É um procedimento que realmente transforma vidas. Afinal, a nossa comunicação depende muito do sentido da audição. Por isso é sempre emocionante ver esse despertar que, para alguns é inédito, e para outros um ‘redespertar’, assim podemos dizer”, afirma o Dr. José Ricardo Gurgel Testa, otorrinolaringologista do Hospital Paulista, instituição que é referência em saúde de ouvido, nariz e garganta.
O implante, segundo ele, é indicado a qualquer indivíduo com perda auditiva profunda ou severa que não tenha observado ganhos satisfatórios com uso de aparelhos auditivos convencionais. “A principal condição é que o nervo auditivo esteja íntegro anatomicamente. Caso sim, é possível fazer a cirurgia, seja em crianças, seja em adultos, seja em idosos. No caso das crianças, em especial, é importantíssimo, por conta do desenvolvimento da linguagem. A partir dos seis meses de vida o implante já é recomendável”.
Pré e pós-operatórios
O procedimento cirúrgico, por sua vez, consiste em uma pequena incisão atrás da orelha e uma mastoidectomia (remoção de tecido ósseo retro auricular), por onde é inserido o dispositivo eletrônico que passa a compor a estrutura auditiva do paciente. O período de internação costuma ser de apenas um dia, sendo que os maiores cuidados e limitações do pós-operatório geralmente duram de 10 a 15 dias.
No entanto, os cuidados preparatórios começam bem antes disso e demandam o auxílio de outro profissional de saúde: o fonoaudiólogo. Este, aliás, é elemento essencial antes, durante e depois do implante coclear. “Assim como o médico otorrinolaringologista, o fonoaudiólogo participa de todas as etapas que envolvem esse processo: nos exames para verificar se o paciente está dentro dos critérios para a indicação da cirurgia; nos testes intraoperatórios para verificar se o implante está em bom funcionamento e se o nervo auditivo do paciente responde ao estímulo elétrico; assim como no acompanhamento pós cirúrgico, para ativar o sistema de implante coclear e o processador de fala, fazer as programações periódicas do dispositivo e realizar o treinamento auditivo e reabilitação de fala”, detalha a fonoaudióloga Sabrina Figueiredo, que tem larga experiência nesse tipo de assistência e já presenciou inúmeras cenas de alegria por conta disso.
Sabrina ainda observa que “ao longo de mais de 10 anos de experiência com o implante coclear, pude acompanhar mudanças significativas na qualidade de vida de muitos pacientes, sejam adultos que perderam totalmente a audição por alguma doença, trauma ou acidente, sejam crianças que nasceram com surdez e tiveram possibilidade de adquirir e desenvolver de fala, muitas vezes com desempenho compatível a crianças ouvintes da mesma idade. É algo sem dúvida muito gratificante”.
Saiba mais
Diferentemente dos aparelhos auditivos tradicionais, o implante coclear não somente amplia o volume dos sons que o paciente escuta, mas melhora também a taxa de compreensão. Por isso muitas vezes têm sucesso em pacientes que não apresentam melhoras com o tratamento convencional.
Embora resulte de uma tecnologia já antiga, presente desde o início dos anos 1970, os equipamentos utilizados atualmente são bem mais compactos, e a qualidade sonora e de ajustes são bem mais avançadas e de fácil manuseio.
Apesar de ainda ser necessário o uso de um dispositivo externo, hoje a tecnologia disponível já prevê modelos de tamanhos mais discretos (semelhante a uma presilha de cabelo), modelos à prova d´água, bem como modelos que funcionam como fones de ouvido com conexão Bluetooth e recurso de conectividade com smartphone, transmitindo áudio de som, mídia e ligação diretamente ao implante.
O primeiro implante coclear realizado no Brasil foi realizado em outubro de 1977, pela equipe do Prof. Dr. Pedro Luiz Mangabeira Albernaz e do Prof. Dr. Yotaka Fukuda.
Embora de alto custo, hoje em dia o implante coclear é bem mais acessível ao público. Atualmente o procedimento tem cobertura pelos planos de saúde no Brasil e também pode ser realizado por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).