80% dos atendimentos em pronto-socorro poderiam ser evitados

O monitoramento de doenças de forma profilática pode eliminar a espera tanto no SUS quanto nos hospitais particulares

Dados do Ministério da Saúde indicam que mais de 80% dos atendimentos realizados nas emergências podem – e devem – ser evitados, para que casos realmente graves sejam atendidos com mais agilidade e chances de recuperação. Em teoria, a solução para o problema seria o bom funcionamento do sistema de Atenção Primária à Saúde (APS), responsável pelo atendimento inicial, abrangente e acessível à população. Mas, na prática, o cenário segue desafiador: emergências lotadas, fluxos complicados de triagem e experiência negativa do paciente, seja no sistema público, seja no sistema particular. “Em todas as esferas enfrentamos uma deficiência na execução da Atenção Primária à Saúde. Isso faz com que o cidadão não confie no processo e, na dúvida, busque os pronto-socorros”, avalia Henrique Mendes, sócio-fundador da startup brasileira Global Health Monitor (GHM), que desenvolve tecnologias de gestão inteligente para a área da saúde.

Ele explica que o termo APS foi designado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que ainda elenca outros dois níveis de atendimento: o secundário e o terciário. “A APS foca na prevenção, ou seja, na realização de exames e consultas de rotina de forma a monitorar a saúde do cidadão e assim reduzir o risco de doenças. Porém, diante dos gargalos que acontecem diariamente nas emergências país afora, o mercado está se encarregando de desenvolver soluções que auxiliem nessa gestão”, conta ele.

A tecnologia de rastreamento de doenças por contact tracing desenvolvida pela GHM é um exemplo desse movimento. Implementado em algumas cidades do Brasil, o aplicativo da marca demonstrou eficácia durante a pandemia do novo coronavírus e o projeto agora é transbordar os bons resultados para outras necessidades na área da saúde em geral. “Além de monitorar possíveis contágios, a tecnologia desenvolvida pela GHM permite a autoavaliação de sintomas a partir de um sistema que conta com chancela e orientação médica automatizada. Trata-se de uma solução com aplicabilidade em várias áreas, desde o cruzamento de sintomas até o monitoramento de outras epidemias e endemias, como a dengue”, descreve Mendes.

Desenvolvido em 2021, em parceria do time de infectologistas do Instituto Butantan, o aplicativo GHM passou monitorou a Covid-19 em cidades paulistas como Araraquara, Santos, Serrana e Taquaritinga. “O mais interessante é que o rastreamento acontece por geoprocessamento, de forma totalmente anônima e respeitando a privacidade. O uso de dados é parecido com os apps de trânsito, sem nenhuma exposição do usuário”, explica Adam San Barão, CTO da startup.

Os sócios acreditam que a utilização de aplicativos como o da GHM passe a apoiar a importante atuação dos agentes de Atenção Primária à Saúde, que seguem sendo o grande trunfo da eliminação das filas nas emergências. “Quanto maior for o número de pessoas conectadas ao monitoramento digital, tendo acesso a informações corretas e sendo encaminhadas para o nível certo de atendimento, menores serão as filas nos prontos socorros. E é para isso que estamos trabalhando”, finaliza Barão.

A solução de monitoramento via geolocalização desenvolvida pela GHM já conta com o apoio do CPQD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o programa Startup With IBM (da IBM), a HiLab (Health Tec de Curitiba), EZOK e a Ninho Digital.

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