Idealizado por Gabriela Gama, que dirige e compõe o elenco, espetáculo será apresentado na mostra Fringe da 32ª edição do Festival, dias 6 e 7 de abril, com ingressos gratuitos
Condenado a quatro anos e meio de prisão por agressão sexual, o ex-jogador de futebol Daniel Alves deixou sob protestos, na última segunda-feira, 25, a cadeia espanhola onde estava detido desde janeiro de 2023 após o pagamento de uma fiança. Na quinta-feira da semana passada, 21 de abril, o também ex-jogador Robinho foi preso em Santos, litoral paulista, após ter a sua pena internacional de nove anos pelo crime de estupro coletivo homologada pela Justiça brasileira. As condenações dos ex-atletas reacenderam na sociedade o debate em torno da violência contra a mulher. O tema é o mote da peça Labirinto Feminino, em cartaz na mostra Fringe da 32ª edição do Festival de Curitiba. As apresentações únicas vão acontecer nos dias 6 e 7 de abril, sábado e domingo, respectivamente, às 20h, no Palco Ruínas. Os ingressos serão gratuitos.
Com a proposta de explorar o ciclo da violência contra a mulher em um relacionamento abusivo, e como identificar as suas diferentes fases, o espetáculo foi criado por Gabriela Gama, que dirige e compõe o elenco ao lado do ator Shirtes Filho. A autora e diretora paulistana afirma que o seu projeto reflete a própria vida. “Há uma epidemia silenciosa e uma cultura que, em menores e maiores proporções, mantém as mulheres violentadas. O Brasil é o quinto país, segundo a ONU, no ranking de feminicídios. A peça é de grande relevância para o Festival, sobretudo porque, apenas em 2023, houve um aumento da violência contra mulher. Um caso a cada dois minutos foi registrado, além de números alarmantes de feminicídios que colocaram o Paraná em terceiro lugar entre os estados com o maior número de casos no país”, ressalta.
Sobre o caso Daniel Alves, a autora, diretora e atriz afirma: “a justiça é uma referência. Quando ela estipula o pagamento de uma fiança para um crime como esse, acaba sinalizando para a sociedade que há um ‘valor’ para estuprar uma mulher. Em relação ao caso Robinho, ele afirma que não houve estupro porque não transou. Ou seja: ainda vivemos em uma sociedade que acredita que a violência só existe quando é física, e que só há estupro quando existe a penetração. Cabe salientar que, qualquer ato que o homem tenha em relação à uma mulher, sem o consentimento dela, é estupro”, enfatiza Gabriela Gama.
Labirinto Feminino
O espetáculo narra a história de uma mulher que está prestes a se casar com o seu “príncipe”. Porém, o que aparenta ser uma relação amorosa e feliz esconde uma realidade bem diferente. Por meio de performances e monólogos intensos, a peça explora o ciclo da violência doméstica e como situações de abusos se apresentam de formas diversas, ao mesmo tempo que discute a importância de combater os feminicídios que resultam na dizimação do empoderamento feminino. “O texto é composto por performances que foram criadas a partir de cada estação do ciclo de violência. Contamos a história desde a mitologia, passando pelos contos de fadas, e chegando até os dias de hoje. A cenografia é minimalista, com o palco vazio que representa um espaço neutro repleto de elementos simbólicos, aludindo ao psicológico de uma vítima de violência. A iluminação, por sua vez, cria atmosferas diferentes ao longo da peça, ajudando de forma simbólica a destacar a transformação das personagens. Em contraste com a violência, momentos de esperança e de empoderamento também são destacados”, explica Gabriela Gama.
A autora, diretora e atriz conta que o espetáculo é uma resposta ao aumento de casos de feminicídio no Brasil. “Só no primeiro semestre de 2023, houve em São Paulo um aumento de 34%, assim como agressões, ameaças e medidas protetivas. São números expressivos que não podem ser ignorados. Por que querem nos matar? O que podemos fazer para mudar esse cenário? A peça foi pensada como uma forma de expor a calamidade, assim como um alerta e uma tentativa de prevenção. Reconhecer o ciclo talvez seja uma das formas de libertar uma próxima geração dessa que eu chamo de ‘pandemia silenciosa’”, enfatiza.
Arte a partir da vida
O espetáculo Labirinto Feminino surgiu de uma investigação que Gabriela Gama deu início em 2018 sobre a Síndrome de Estocolmo e os diferentes tipos de violência contra as mulheres. A pesquisa que embasa o espetáculo também resultou em uma performance chamada Núpcias, na qual a atriz representa uma noiva que se prepara para o seu casamento enquanto vai contando as histórias de abuso que sofre por parte do noivo. “Fiquei impactada como a história apresentada fazia o público interagir e se indignar com a narrativa. A partir daí, intensifiquei a pesquisa sobre o ciclo da violência, assim como a linguagem performática, principalmente durante a pandemia, já que os números de agressões e feminicídios aumentaram no período. Foi então que surgiu Labirinto Feminino em forma virtual, a partir de uma residência pela Lei Aldir Blanc. A peça estreou nos palcos em 2023 em São Paulo junto com a Realidade Virtual, uma experiência imersiva em óculos 3D no 31º Festival Mix Brasil”, conta a idealizadora.
Festival de Curitiba 2024
Muito mais que um festival de artes cênicas, o Festival de Curitiba é um catalisador de talentos, de tendências culturais e artísticas, de reflexão, de formação, entretenimento e, principalmente, de encontros. Com sua já conhecida e estruturada multiplicidade na programação, hoje, o Festival de Curitiba chega em sua 32° edição, firmado como a principal oportunidade dos paranaenses e brasileiros desfrutarem de produções artísticas variadas e premiadas, com preços acessíveis. Em 2024, acontece de 25 de março a 7 de abril. Saiba mais: https://festivaldecuritiba.com.br/sobre-o-festival/
Fringe
É uma mostra aberta que compõe a programação do Festival de Curitiba com companhias de teatro, circo, música, dança e performances de várias partes do Brasil e de dezenas de outros países. O Fringe se tornou uma grande vitrine no cenário teatral brasileiro, reunindo, na última edição, mais de 280 atrações e 1800 artistas que ocuparam 16 espaços de Curitiba e Região Metropolitana, levando arte acessível e gratuita aos curitibanos e turistas que visitam a cidade durante todo o período do Festival. Saiba mais: https://festivaldecuritiba.com.br/evento/fringe/
Labirinto Feminino – Festival de Curitiba 2024
Apresentações: Dias 6 e 7 de Abril
Horário: Sábado e Domingo, às 20 horas
Local: Palco Ruínas – Av. Jaime Reis, S/N – S. Francisco, Curitiba.
Ingressos: Grátis
Classificação: 14 anos
Duração: 70 minutos
Instagram: @femininolabirinto
Ficha Técnica
Direção: Gabriela Gama
Assistente de Direção: Júlio Oliveira
Elenco: Gabriela Gama e Shirtes Filho
Direção de Movimento: Emílio Rogê
Iluminação e Operação: Ariel Rodrigues
Sonoplastia e Operação: Rodolfo Ruscheinsky
Design Gráfico: Shirtes Filho
Fotos: Karen Malagoli
Marketing: Higor Gonçalves
Assessoria de Imprensa: Personnus
Produção e Idealização: Faga’s Produções