Problema atinge 1 bilhão de pessoas em todo o mundo; especialista do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), destaca uma das causas: a disfunção temporomandibular (DTM)
Um dos principais objetivos do dia 19 de maio é alertar a população sobre as diferentes causas da cefaleia (dor de cabeça), identificá-las e permitir o tratamento adequado: é o Dia Nacional do Combate à Cefaleia que, segundo a literatura médica, tem mais de 200 causas diferentes. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o problema atinge 1 bilhão de pessoas no mundo e é a sexta doença crônica que mais incapacita. Dentre as diversas causas, uma, em particular, chama a atenção: a disfunção temporomandibular (DTM).
Um dos principais objetivos do dia 19 de maio é alertar a população sobre as diferentes causas da cefaleia (dor de cabeça), identificá-las e permitir o tratamento adequado: é o Dia Nacional do Combate à Cefaleia que, segundo a literatura médica, tem mais de 200 causas diferentes. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o problema atinge 1 bilhão de pessoas no mundo e é a sexta doença crônica que mais incapacita. Dentre as diversas causas, uma, em particular, chama a atenção: a disfunção temporomandibular (DTM).
Cirurgiã Bucomaxilofacial do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), Laura D’Ottaviano, explica que a cefaleia relacionada à DTM tem algumas características específicas. “Geralmente, é uma dor na região das têmporas, bilateral, em algumas situações pode ser unilateral. Não chega a ser uma dor incapacitante, como no caso da enxaqueca, que normalmente faz com que o paciente precise se fechar em um quarto escuro e limita suas atividades diárias, mas prejudica a qualidade de vida do paciente. A cefaleia ligada à DTM é aquela dor chata, não muito intensa, mas que perturba o dia inteiro. Pode apresentar momentos de piora e, nesses momentos, há de se recorrer a medicamentos. A dor na região das têmporas é causada pela contração exagerada do músculo temporal, envolvido diretamente na mastigação, que fica nessa região”, explica.
Muitas vezes, o paciente com DTM pode apresentar dificuldade para movimentar a boca, apresentar uma abertura além do limite normal ou até uma movimentação dolorosa, alterando desta forma as funções da boca, como mastigação, deglutição, fala e, até, respiração. “Dependendo do caso, a dor ou desconforto pode afetar pontos diferentes da face: dor nos músculos da mastigação, dor no músculo temporal ou em pontos específicos, como próximo ao ouvido (podendo confundir o paciente, que acha que está sentindo dor de ouvido). Além da dor, também pode perceber ruídos anormais, como estalidos ou crepitação, ao movimentar essa articulação”.
Segundo a especialista, o fator predisponente mais importante da DTM está ligado à qualidade dos ligamentos do paciente. “O ligamento funciona como se fosse um elástico sustentando a articulação temporomandibular (ATM), a estrutura que une o osso temporal com a mandíbula e faz com que ela possa se mover. Se esse elástico é forte, mesmo que essa articulação tenha algum pequeno problema, ele se sustenta. Agora, quando o ligamento é muito frouxo, então, a instabilidade dessa articulação acontece muito mais facilmente”.
Bruxismo
Também temos que considerar as parafunções orais, como, por exemplo, o bruxismo. “O bruxismo é o ato de apertar ou ranger os dentes involuntariamente, durante o sono ou no período em que a gente está acordado. Muitas vezes, o paciente só percebe que aperta ou range os dentes ao observar fraturas de dentes ou restaurações, desgaste dos dentes, dentes doloridos ou amolecidos, dores nos músculos faciais ou dores de cabeça ao acordar ou em momentos de tensão”, explica.
De acordo com a cirurgiã, o bruxismo acontece em surtos e é desencadeado por um mecanismo cerebral ligado às emoções. “Geralmente, por emoções, não necessariamente ruins, mas que tocam o paciente. Em períodos de ansiedade ou tensão, os surtos de bruxismo são muito mais frequentes. Essas emoções chegam ao cérebro e acionam uma estrutura chamada centro de controle rítmico do tálamo. Isso fará com que o paciente, involuntariamente, aperte ou ranja os dentes. Independentemente se ele tem dentes ou não, se tem uma mordida boa ou não”, diz. “O problema de ficar apertando os dentes é que o ser humano não foi feito para ficar com os dentes encostados, isso deve ocorrer somente no momento da mastigação. Desta forma, uma noite de dentes rangendo supera muito o limite do sistema mastigatório. Fazendo uma analogia, é como se você corresse uma maratona toda noite e pela manhã sentisse dores nas pernas. É isso que ocorre com quem tem bruxismo, a pessoa amanhece com dor de cabeça ou dores na face em decorrência de ter contraído excessivamente a mandíbula”, associa.
Diagnóstico
A DTM pode acontecer em qualquer idade, sendo mais prevalente nas mulheres. “O diagnóstico inclui a anamnese, o exame clínico e os exames complementares. A anamnese é o conjunto de perguntas para conhecermos a saúde geral do paciente, sua queixa principal, bem como as características da dor que ele sente. Em casos de dores de cabeça, é sempre muito importante ouvir o paciente e investigar”, destaca.
O exame clínico, inclui a palpação da musculatura, observação da cavidade oral e auscultação de ruídos anormais durante a movimentação mandibular. No caso do bruxismo, como o movimento não é só apertar os dentes, mas também contrair as bochechas e apertar a língua contra os dentes, muitas vezes, a observação de uma língua com a marca dos dentes ou a mucosa da bochecha machucada podem ser sinais clínicos de que o paciente é um rangedor ou apertador de dentes.
Durante o exame clínico também deve ser realizada a palpação da musculatura facial, para sentir se há pontos dolorosos, músculos muito volumosos ou muito contraídos. Também deve-se observar a amplitude de abertura, fechamento, lateralidade direita e esquerda, protusão (movimento da mandíbula ir pra frente) e retrusão (que é o movimento para trás), verificando se a movimentação está maior ou menor do que seria considerado normal. Além da anamnese e exame clínico, podem ser necessários para o diagnóstico exames de imagem, como radiografias, tomografias e ressonância magnética.
Tratamento
O tratamento da DTM varia conforme o tipo de disfunção e a idade do paciente. “Não existe um tratamento generalizado, mas contamos com diversos recursos que auxiliam a melhora de forma significativa, como, por exemplo, as placas de mordidas e a toxina botulínica, além de todo o suporte multiprofissional, que inclui fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos”, destaca.
Com o tratamento adequado, a pessoa pode ter uma vida normal e se livrar do incômodo das dores de cabeça. “Inclusive, há técnicas de automanejo da dor. Então, é muito importante que o paciente se conheça, conheça seu corpo, entenda o que está acontecendo e tenha o acompanhamento apropriado. Assim, a dor de cabeça desencadeada pela DTM pode ser controlada sem prejuízos para melhor qualidade de vida”, conclui.