Segundo especialista, o uso excessivo e em alto volume do equipamento pode causar perdas auditivas irreversíveis; exposição prolongada a jogos eletrônicos é fator de risco entre jovens
A evolução tecnológica tem sido o grande marco de desenvolvimento nos últimos anos e o mundo dos games não para de crescer. Como uma versão aprimorada da realidade virtual, o emergente metaverso, por exemplo, tem sido a grande aposta de empresas de jogos eletrônicos. Infelizmente, toda essa evolução ainda não impede potenciais problemas de saúde resultantes do uso contínuo de certos equipamentos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 466 milhões de pessoas sofrem de perda auditiva com marcas de invalidez em todo o mundo. E os jovens correm grande risco: cerca de 1,1 bilhão de pessoas com idades entre 12 e 35 anos podem sofrer perda de audição devido à exposição a ruídos nos telefones, em ambientes recreativos e com o uso prolongado de fones de ouvido, item fundamental para os jogos eletrônicos.
Como explica Márcia Bonetti, fonoaudióloga e responsável técnica da Audiba, empresa paranaense de aparelhos auditivos, uma vez que a intensidade sonora causada pelo equipamento compromete a estrutura do ouvido, a perda se torna irreversível. “O problema não é o fone em si, mas seu uso causa a perda de audição. Geralmente, os gamers passam um dia inteiro, de 10h a 12h fazendo o uso do fone de ouvido, recebendo uma intensidade sonora muito forte e acima do que é liberado. O excesso de som acaba refletindo diretamente nas células ciliadas do ouvido e mata essas células, que não vão se regenerar”, explica.
Uma vez que as células não estão mais íntegras nos canais semicirculares, a condução sonora fica debilitada, ou seja, o som não é conduzido para nervo auditivo para que seu processamento seja realizado. Assim, de acordo com a especialista, o ideal é fazer um intervalo de 10 minutos a cada hora de utilização dos fones. “Não estamos falando de um som específico que pode ocasionar uma perda auditiva, mas de uma intensidade sonora, um volume muito forte, muito alto, que será prejudicial à audição do paciente no longo prazo. Por isso, o melhor remédio para evitar essa perda é realizar pequenas pausas ao longo do dia e, claro, preservar-se de exageros”, afirma.
Caso o dano seja identificado, fazer o uso de próteses é, geralmente, a melhor opção para os pacientes. De acordo com a fonoaudióloga, quando há o comprometimento de estrutura de ouvido — como de células ciliadas, nervo auditivo, orelha interna —, é preciso realizar uma avaliação mais profunda para que seja possível determinar o tipo de tratamento mais adequado, mas o uso dos aparelhos auditivos costuma ser recomendado para a maioria dos casos.
Atenção dos pais é fundamental
No caso de crianças e adolescentes, é importante que os pais ou responsáveis estejam atentos ao tempo de uso dos equipamentos e aos sintomas de perda auditiva. “O risco não é maior ou menor por conta da idade; ele se torna maior ou mais grave em função da exposição ao ruído. Como adolescentes podem não ter essa noção de controle, é preciso que haja uma supervisão”, explica a fonoaudióloga, complementando que para casos em que há sinais de uma perda existente, deve-se procurar um especialista. “Muitos pais acabam não admitindo que existe uma perda auditiva até por ter resistência em relação aos aparelhos, criando um preconceito. Para o bem da criança, porém, é importante que não mascarem o quadro e facilitem a adaptação e o processo para o seu filho”, destaca.
Fazer os exames de audiometria com regularidade, procurar equipamentos que possuam mais segurança e, principalmente, controlar o tempo de uso dos fones é primordial para evitar a perda auditiva ou até mesmo contribuir para o tratamento, nos casos em que já há a perda. “Já estão disponíveis no mercado fones que vão até uma intensidade adequada, mas qualquer aparelho pode se tornar prejudicial porque quem determina a intensidade sonora acaba sendo o usuário”, finaliza Márcia.